O Mapa da Fome do Município do Rio foi apresentado nesta quarta-feira (29) no Salão Nobre da Câmara do Rio em um debate público. A ação inédita entre as capitais brasileiras é uma iniciativa da Frente Parlamentar contra a Fome e a Miséria da Câmara em parceria com o Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (INJC/UFRJ). O documento de 74 páginas, intitulado o I Inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro 2024, foi apresentado pelo vereador e presidente da Frente Parlamentar, Dr. Marcos Paulo (PT), acompanhado da professora e pesquisadora do INJC/UFRJ, Rosana Salles-Costa.
“Esse grupo começou em 2021, durante a pandemia, quando identificamos a dificuldade das pessoas em se alimentar, morar, de ter condição de se sustentar”, lembrou Marcos Paulo. Segundo o vereador, o documento vai servir para a elaboração de políticas na área. “Eu, como médico, acredito que não dá pra tratar o que não se sabe o que é. Então vamos esmiuçar esse diagnóstico para que o poder público implemente políticas públicas e dar um tratamento para esse problema”, disse o vereador.
Os dados foram coletados a partir de entrevistas em dois mil domicílios cariocas nas cinco Áreas de Planejamento (APs) do município entre novembro de 2023 e janeiro de 2024. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"O Mapa da Fome do Rio é um importante legado da Frente Parlamentar Contra a Fome e a Miséria para a população carioca. Ele servirá de base para fornecer critérios técnicos para a implementação de políticas públicas, e com isso auxiliar na ampliação dos restaurantes populares, cozinhas comunitárias, banco de alimentos e demais instalações de programas de segurança alimentar”, disse a professora Rosana Salles-Costa.
O coordenador de Segurança Alimentar da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) do Rio de Janeiro, Igor Barcelos, participou do evento e falou do quão oportuno é o trabalho e o apoio da Câmara, no que ele entende ser uma política de Estado.
“Na próxima segunda-feira lançaremos o 1º Plano de Segurança Alimentar da cidade do Rio de Janeiro, um marco, um passo importante para fortalecer as políticas de combate à fome no município. Fizemos uma inauguração há pouco do primeiro Banco de Alimentos do Rio de Janeiro, no EcoParque do Caju, uma iniciativa que pretende alcançar cerca de mil famílias, ou seja, quatro mil pessoas na região, que é completamente vulnerável. Fazer isso hoje, junto à divulgação do Inquérito é uma demonstração de que a SMAS está comprometida nessa luta, alinhado à estratégia nacional”, disse Barcelos.
Números da fome
Os números apresentados pela UFRJ mostram que 7,9% das casas na capital fluminense são afetadas pela fome, o que significa que 489 mil pessoas têm fome. Os dados mostram ainda que cerca de 2 milhões de habitantes da cidade convivem com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). A fome é maior nos lares chefiados por pessoas negras (em 9,5% desses domicílios). Quando o estudo faz a análise por gênero, 8,3% das famílias comandadas por mulheres também não têm o que comer.
Segundo o levantamento, a área da Zona Norte, excluindo a Grande Tijuca, (Área de Planejamento 3 - AP3) é a mais atingida. A fome está presente em 10,1% das casas. Outros indicadores mostram que a fome está presente em 16,6% das famílias lideradas por pessoas com escolaridade mais baixa. Os pratos também estão vazios em 18,3% das casas onde a pessoa de referência está desempregada, e em 34,7% dos domicílios com renda per capita mais baixa. Insegurança hídrica A insegurança hídrica também é avaliada pelo Mapa da Fome da Cidade do Rio de Janeiro. O estudo revela que 15% dos lares cariocas não tiveram fornecimento regular de água ou sofreram com a falta de água potável. Dessas famílias, 27% se encontraram em situação de fome. As regiões mais afetadas pela escassez de recursos hídricos são a AP 1 (24,3%) e a AP 3 (21,7%).
A íntegra da pesquisa pode ser acessada em: https://injc.ufrj.br/mapadafomerio/.
Banco de Alimentos
Em nota, a Prefeitura do Rio ressalta que o tema da insegurança alimentar é prioritário para a administração, tendo lançado o primeiro Banco de Alimentos da Cidade, em parceria com a Comlurb e com a rede supermercados Zona Sul. O Poder Executivo afirma ainda servir em torno de 12 mil refeições diárias gratuitas por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, além de já ter distribuído mais de 3,5 milhões de refeições por meio do programa Prato Feito Carioca desde 2022. Leia abaixo a íntegra:
"O combate à fome e à insegurança alimentar é uma prioridade para a Prefeitura do Rio. Atualmente, cariocas em situação de vulnerabilidade são atendidos por benefícios sociais como o Bolsa Família que atende 1,3 milhão de pessoas. E, além desse benefício, a Prefeitura também oferece o Cartão Família Carioca para mais de 149 mil pessoas e 151 mil famílias recebem o auxílio gás.
Além disso, mais de 3,5 milhões de refeições já foram distribuídas gratuitamente nos territórios mais vulneráveis por meio do programa Prato Feito Carioca, criado em 2022. Já são 28 unidades das Cozinhas Comunitárias Cariocas e, até o fim do ano, 55 estarão em funcionamento. Sob administração da prefeitura, também estão em funcionamento três restaurantes populares, que fornecem em média de 3.900 almoços diários, a R$ 2 cada um, e cerca de 1.150 cafés da manhã, a R$ 0,50 cada um.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) informa que atualmente cerca de 1.500 pessoas estão sendo assistidas e mais de 500 fazem parte do acolhimento noturno nos abrigos. Por dia, são servidas em torno de 12 mil refeições gratuitas. Nesta quarta-feira (29/05), a SMAS, em parceria com a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) e a rede supermercados Zona Sul, lançou o primeiro Banco de Alimentos da cidade. Os supermercados Zona Sul doarão o excedente de alimentos (frutas, legumes e verduras) não comercializados em suas lojas, mas em ótimas condições nutricionais de consumo, para serem distribuídos a famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar, começando na região do bairro do Caju, que registra um dos menores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade."